Neste projeto, optei por uma abordagem que valoriza a tecnologia mais tradicional e menos moderna, buscando desmistificar a ideia de que tecnologia se resume apenas ao clichê de telas e máquinas. Há um aspecto humano e manual na tecnologia, envolvendo processos, técnicas e outros elementos. Decidi explorar essa vertente tecnológica ao trabalhar com tecidos e integrar a reciclagem de materiais subvalorizados, especialmente aqueles que, por serem considerados novos, não recebem a devida atenção no ciclo de reciclagem.
Em colaboração com o Instituto Europeu di Design, onde sou estudante, utilizei a tecnologia moderna, como prensas térmicas e máquinas de corte a laser, para transformar os resíduos gerados por impressoras 3D, especificamente os plásticos PLA e ABS. Derreti esses resíduos em placas e, posteriormente, por meio da máquina de corte a laser, transformei essas placas em botões para os designs do projeto.
A seleção dos materiais para o projeto foi baseada em estudos sobre o conceito de sustentabilidade, levando em consideração diversas interpretações e aplicações desse princípio. No projeto busquei evidenciar o lado mais social e acessível da sustentabilidade, criando algo disponível para todos, com orientações para recriar designs sustentáveis, não apenas comprá-los. Além disso, a escolha dos materiais têxteis foi pautada na acessibilidade. Embora o uso de novos materiais sustentáveis seja valioso para a sustentabilidade, muitas vezes exclui parte da população devido à falta de conhecimento ou à inacessibilidade desses materiais, devido ao alto custo.
Todos os materiais têxteis utilizados no projeto são provenientes de descartes de marcas, que anteriormente contribuíam para um aglomerado global de tecidos descartados que se não forem reutilizados, reciclados ou revitalizados, esses tecidos poderão aumentar a poluição do planeta. No mundo da moda, muitos materiais são descartados, e focar apenas em novos materiais significa ignorar um acúmulo de materiais abandonados no planeta. Por isso, optei por uma abordagem que visa a revitalização desses materiais descartados, tentando equilibrar essa disparidade e mudar a mentalidade antes de mudar a matéria-prima.
Para isso, busquei inspiração nos izakayas do período Edo no Japão, onde algumas modelagens de roupas eram simples e acessíveis para reprodução. Dessa forma, após estudos, criei modelagens experimentais, facilitando a reprodução para outras pessoas. Inspirado nesses izakayas, que utilizavam ingredientes muitas vezes descartados ou não muito vivados pela gastronomia japonesa, adotei a mentalidade de zero desperdício, incorporando a modelagem zero waste no projeto, alinhando-me com a filosofia "da cabeça ao rabo" adotada nesses locais fazendo uma analogia divertida com o que era feito com os ingredientes nos izakayas japoneses, aproveitando ao máximo os materiais disponíveis. Juntamente a esse contexto quis trazer outro questionamento ao trabalho que foi traduzido de forma fisica através de uma peça, o poncho “Yanagi Flag”, onde ao explorar as obras de Yukinori Yanagi, um artista contemporâneo japonês de renome, deparei-me com uma expressão artística única centrada na bandeira do Japão. Yanagi não apenas utiliza esse símbolo nacional em suas criações, mas o transforma em um meio provocativo para explorar questões profundas de identidade nacional e críticas sociais e políticas.
   Ao mergulhar na abordagem de Yanagi, quis fazer um trabalho com criações que vão além da representação visual convencional da bandeira. Ressignifica-la desafiando as convenções estabelecidas e utilizando-a como uma ferramenta provocativa para desencadear discussões sobre a dinâmica sociopolítica do Japão contemporâneo. Propondo um diálogo crítico, convidando a todos a reconsiderar interpretações preexistentes e se envolver em uma análise mais profunda das complexidades subjacentes ao símbolo.
   A escolha da bandeira como elemento central das obras de Yanagi e do meu projeto “Da CABEÇA ao RABO by Maison Akikô Tanaka” tem uma carga simbólica única. Não apenas se utilizando do reflexo visual, mas explorando de forma profunda o significado histórico e cultural desse ícone nacional, a bandeira do Sol Nascente representa o nascer do sol.
   Essa decisão estética, no entanto, inevitavelmente torna o trabalho polêmico. A utilização de um símbolo nacional tão carregado pode gerar reações diversas, criando um espaço para debates intensos sobre o papel da arte na sociedade, a liberdade de expressão e os limites da crítica social.
   Ao finalizar meu trabalho, em última análise percebo que as criações não apenas desafiam a estética visual, mas também oferecem uma contribuição significativa para o campo da arte contemporânea desafiando não apenas a estética visual, mas também os conceitos arraigados de identidade nacional e o papel dos símbolos culturais na expressão artística. A meta desse trabalho é convidar e atrair a todos a uma jornada intelectual, incitando uma reflexão profunda sobre as complexidades culturais e sociais inerentes ao uso de símbolos nacionais na arte contemporânea, moda, design, pesquisa e desenvolvimento.
Link para matéria da harpers bazaar sobre o evento Moda Tech
https://harpersbazaar.uol.com.br/moda/realidade-aumentada-e-holografia-12-designers-assinam-desfile-tecnologico-do-modatech/?amp ​​​​​​​
Ambientação do projeto "Da CABEÇA ao RABO"
Logo após ser selecionado como um dos designer que fariam parte do evento MODA TECH, paralelo a parte de experimentação, prototipagem e confecção decidi produzir composições gráficas que colaborassem com a imersão no ambiente que eu tinha como meta que minhas criações proporcionassem. Além disso disponibilizei para o público todos os moldes usados para confecção das peças para que todos pudessem recriar peças que derivam de uma modelagem zero Waste tentando assim quebrar essa linha pensamento e comportamental de que o único meio de acesso a peças sustentáveis é comprando, tentando plantar uma linha de pensamento que a sustentabilidade pode ser compartilhada e não apenas vendida. 

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